Respeitar o futuro. Habituámo-nos a olhar para a arquitetura a partir do seu resultado, os edifícios, as casas, os palácios, as grandes obras. Ouvimos falar de respeitados arquitetos, entre os quais alguns portugueses, e dos prémios internacionais.
Habituámo-nos a olhar para a arquitetura a partir do seu resultado, os edifícios, as casas, os palácios, as grandes obras.
Ouvimos falar de respeitados arquitetos, entre os quais alguns portugueses, e dos prémios internacionais. Classificamos a arquitetura como arte, pela sua estética e pela sua interpretação do estilo de vida de cada época.
Também hoje a arquitetura se adapta às correntes que marcam não só o nosso estilo de vida, mas também os grandes problemas que derivam da nossa forma de viver.
A arquitetura sustentável é a resposta aos desafios ecológicos do nosso tempo.
Podemos definir a arquitetura sustentável como o processo de criação, de design e de construção ou de recuperação de edifícios que minimiza os custos ambientais e que promove uma melhor qualidade de vida, potenciando os recursos que a natureza nos oferece.
Não basta dizer que se faz uma arquitetura sustentável. Tal como para os produtos biológicos existem diferentes sistemas de certificação que nos garantem os procedimentos e materiais utilizados ao longo de toda a construção.
O BREEAM, com origem no Reino Unido e que é utilizado pela Criterion, foi o primeiro a ser desenvolvido com esta finalidade e é um dos mais populares. O sistema BREEAM abrange quer o procura de zero carbono no edificado quer a criação de ambientes saudáveis para as pessoas, cuidando do conforto térmico e sonoro, de uma ventilação adequada e da qualidade do ar, promovendo assim o bem-estar dos habitantes dos nossos empreendimentos.
As dimensões de avaliação são: energia, saúde e bem-estar, uso do solo, materiais, gestão, poluição, transporte, desperdício e inovação.
O LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) é um programa de certificação desenvolvido pelo US Green Building Council e é um dos mais usados no mundo. Avalia os edifícios em 8 itens, destacando-se pelo seu foco na sustentabilidade ambiental e social.
Existem muitos outros com origem em países como o Japão, a Austrália, a Franca ou a Alemanha, para além de vários com origem nos estados Unidos da América.
VALORIZAÇÃO COMERCIAL
Não podemos deixar de assinalar a importância da arquitectura sustentável na valorização dos edifícios.
Uma valorização comercial cada vez mais requerida pelos investidores e pelos clientes finais, uma vez que obedece a uma das preocupações maiores da actualidade – a poupança de recursos e a diminuição da pegada de carbono, para além da durabilidade da sua manutenção.
No final podemos sempre perguntar pelo custo. Quão onerosa se torna a sustentabilidade? esta pergunta é pertinente e tem duas respostas:
O nosso futuro comum
O conceito de sustentabilidade aparece pela 1ª vez em 1987 no relatório da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, conhecido como o relatório Brundtland, uma iniciativa da ONU que apontou o desequilíbrio entre os padrões de consumo vigentes à época e o desenvolvimento sutentável, ou seja, “aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas necessidades”.
O maior problema que hoje enfrentamos é precisamente a compatibilidade do bem estar das sociedades e do consumo com os recursos existentes para suprir todas as necessidades do seu desenvolvimento.
A que podemos somar ainda as questões da poluição e da diminuição da biodiversidade que põem igualmente em causa o nosso futuro comum.
Assegurar que os recursos naturais estarão também disponíveis para as gerações futuras é por isso o propósito maior da sustentabilidade, exigindo um esforço a todos os actores sociais – das organizações aos indivíduos.
Sendo a indústria da construção uma das que mais recursos gasta e sabendo-se que os edifícios gastam 40% da energia produzida no mundo, emitem 40% das emissões de carbono e utilizam 20% da água potável existente para além dos resíduos, é natural que a sustentabilidade tenha passado a ser uma preocupação e, até, um dever para os construtores responsáveis.
Em Portugal, os números também são avassaladores. Os edifícios representam 28% da energia consumida e 59% da electricidade gasta.
O nascimento do conceito de arquitectura sustentável deriva exactamente da consciencialização da sua importância para assegurar a poupança dos recursos naturais, sem pôr em causa, ou antes, promovendo o conforto, o bem estar e a saúde das populações e a biodiversidade.
A arquitetura sustentável implica um planeamento altamente exigente que abrange não só o edifício, mas também o estaleiro, para que a poupança de recursos comece logo aí.
A preocupação com o transporte e a pegada de carbono leva a preferir matérias-primas e materiais da região. Os desperdícios são outro dos problemas que o planeamento pretende diminuir. É também por isto que cada vez mais se utilizam sistemas pré-fabricados e modulares que diminuem drasticamente o desperdício.
Rentabilizar o que a natureza nos oferece
Nos edifícios, a questão da poupança energética foi desde logo a primeira grande aposta, seja pela utilização de energias alternativas como o solar, seja pelo cuidado com o isolamento.
O aproveitamento e a disposição do espaço face ao sol, questão que varia de acordo com a região onde se inserem os edifícios, tem como objetivo primeiro poupar no aquecimento ou no arrefecimento das casas, aumentando o seu conforto térmico, mas gastando menos energia.
O controle térmico é por isso um desafio que deve ser pensado caso a caso. Nos países ensolarados como Portugal, o sombreamento torna-se assim uma questão importante.
Uma outra dimensão da arquitetura sustentável é o aproveitamento das águas para reutilização, sejam as águas da chuva sejam as águas utilizadas na vida do dia a dia, nomeadamente as águas cinzentas (as que foram utilizadas na cozinha ou nas casas de banho). Vão servir para a rega, para a limpeza e para as descargas das casas de banho.
A questão dos materiais utilizados na própria construção quer para melhorar o controle térmico, quer as tintas utilizadas no interior são outra das dimensões a ter em conta. Tintas não poluentes, madeiras livres de formaldeído, isolamentos em cortiça são alguns exemplos de materiais amigos do ambiente e extremamente importantes para a saúde e o bem-estar dos habitantes e utilizadores dos edifícios, sejam eles para habitação ou para utilizações empresariais.
Faz igualmente parte da arquitetura sustentável a relação com o ambiente envolvente e a promoção da biodiversidade.
São inúmeras as formas escolhidas.
Criação de espaços verdes e com árvores, circundantes aos edifícios que contribuem para o equilíbrio térmico e para a biodiversidade, potenciando a instalação de polinizadores e outros pequenos animais essenciais ao meio ambiente, para além de serem captadores de CO2.
A utilização de plantas nos telhados como elemento potenciador do isolamento é uma estratégia que vemos ser cada vez mais usada, assim como a instalação de plantas em paredes exteriores que contribuem não só para o conforto térmico como se tornam num fator estético diferenciador.
E se a arquitetura sustentável aborda de forma holística a ecologia, a eficiência energética, a funcionalidade, tem igualmente como princípio a promoção da saúde, do conforto e o bem-estar da população pelo que a relação com o meio envolvente é igualmente importante, quer falemos de cidades ou de moradias isoladas no campo.
Uma breve pesquisa na Internet mostra-nos diferentes abordagens, diferentes nomes para um mesmo fim: arquitetura sustentável, arquitetura durável, arquitetura ecológica, ecoprodutos, construção sustentável.
Um conceito que tem um único propósito: poupar recursos do planeta e da natureza para que eles cheguem para as gerações seguintes melhorando, ao mesmo tempo, o nosso modo de vida e a biodiversidade.